Os novos desafios da prevenção da Aids passam por proteger a mulher
Joana Pena (nome fictício a pedido da entrevistada), 34,
chega a sede da ong para sua sessão de terapia semanal. Ela é soropositiva. A
professora de teatro também é mãe de uma criança de cinco meses – não
soropositiva- e uma das participantes do projeto Elas por Elas, Vivendo
Positivo, que atua dando assistência a mulheres vítimas da AIDS na região de
Umuarama, no Paraná.
Joana é a descrição do cenário atual da Aids no Brasil, que
nos últimos anos sofreu transformações significativas segundo os especialistas,
caracterizando-se pelos processos de heterossexualização, feminilização,
juvenilização, interiorização e pauperização de acordo com o relatório do
Programa Nacional de Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST)/Aids. Mulher,
hétero, jovem, pobre e moradora do interior do Brasil, a professora, que dá
aulas em projetos voluntários de assistência a moradores de rua na cidade onde
mora, foi contaminada sexualmente pelo próprio marido há cinco anos.
A transmissão heterossexual tornou-se a principal categoria de
exposição no Brasil desde meados de 1990. Assim, a distribuição proporcional de
casos por categoria de exposição mostra que entre 1996 e 2006, houve um
substancial aumento da transmissão heterossexual (de 43% para 62%). A maioria
das mulheres infectadas são donas de casa, confirmando as observações de outros
países em desenvolvimento segundo o relatório.
Mesmo em um relacionamento estável é fundamental fazer sexo
com proteção. O índice de Aids cresceu muito entre mulheres casadas ou com
parceiro fixo. A Aids hoje está afetando mulheres jovens, que têm relações
sexuais com parceiros variados ou fixos sem uso de proteção, além de mulheres
idosas que acreditam que relações de longa duração afetiva envolvem fidelidade
sexual, aponta estudo da coordenação de Projetos em Saúde Sexual e Reprodutivos
do Núcleo de Estudos para a Prevenção da Aids da USP.
Vivendo Positivo
“As beneficiadas do projeto são quase sempre mulheres de
famílias em situação de extrema pobreza e risco. O tema ainda é alvo de muito
preconceito e desinformação então o desafio é desenvolver estratégias para
integrar novamente essas mulheres na sociedade”, explica Bruna Marcelly
Coutinho, vice presidente da ONG Grupo Pela Vida, que promove o projeto Elas
por Elas.
A entidade dá assistência aos portadores do vírus e seus
familiares, em busca de tratamentos, suporte psicológico, orientação jurídica e
oferece ainda a alimentação para os atendidos pelo projeto. Há ainda leitos
para aqueles em condições mais vulneráveis, repasse de leite e assistência
social em parceria com o Banco de Alimentos de Umuarama, o que permite a
distribuição de hortaliças oriundas de doações de supermercados da cidade.
A organização tem cadeiras titulares no fórum paranaense de
ONG AIDS, das Cidadãs Positivas e dos Conselhos Municipais de Saúde e da
Mulher, e busca levantar temas relacionados à doença. Com a ajuda de doações,
Bruna pretende ampliar as atividades para as atendidas com novos cursos de
formação e produção de artesanato.
Joana acredita que se fizer mais um curso de corte e costura
pode aumentar sua renda em 50%. “Ninguém quer dar emprego a uma mulher solteira
e mãe de criança pequena. Quem dirá se souber que a mãe é soropositiva. Mas
costurando, eu posso vender minhas coisas na feira”, afirma a professora que
garante que a estratégia tem dado certo.
Os novos compromissos
A Ong Grupo Pela Vida não está sozinha. Atualmente, trabalham
com o tema DST, Aids e hepatites virais no país cerca de 350 organizações da
sociedade civil (OSCs). Juntas, elas vão fiscalizar o cumprimento do acordo que
o Brasil estabeleceu, perante a Organização das Nações Unidas (ONU). A meta
90-90-90 tem que ser atingida até 2020,
e consiste em ter 90% das pessoas com HIV diagnosticadas; deste grupo, 90%
seguindo o tratamento e, entre as pessoas tratadas, 90% com carga viral
indetectável. A meta mundial também prevê novas infecções limitadas a 500 mil
ao ano e zero discriminação.
Bruna tem motivos pessoais para se envolver no tema, pois foi
da dor por perder o pai quando tinha 19 anos e três anos depois ver sua mãe
também partir, ambos vítimas da Aids, que ela reuniu forças para ajudar
mulheres portadores do HIV. “Nós temos
[no Brasil] cerca de 800 mil infectados e muitos em idade produtiva. Não podemos
privar essas pessoas do direito de trabalhar. Vamos continuar lutando para
mudar o cenário”, finaliza ela, uma das vencedoras do Prêmio Natura Acolher
2015.
Pessoas que tenham o vírus HIV devem continuar a viver
normalmente, trabalhando estudando, realizando atividades lúdicas e se relacionando
afetivamente. E também têm o direito a isso. "Muitas pessoas infectadas
que têm o tratamento adequado conseguem ter uma vida muito próxima do normal, e
com qualidade, por muitos anos", afirma o médico infectologista e
imunologista Esper Kallas, professor da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) e
coordenador do comitê de retroviroses da Sociedade Brasileira de Infectologia
(SBI).
Movimento Natura
01/03/2016MOVIMENTO NATURA E PROJETO ELAS POR ELAS VIVENDO POSITHIVO
Descubra a história de Bruna Marcelly Coutinho, consultora Natura vencedora do Prêmio Acolher. Após perder seus pais para o HIV fundou o projeto Elas por Elas Vivendo Posithivo, que dá assistência em tratamentos, suporte psicológico, conscientização e orientação jurídica, além de contar com o espaço Nosso Lar, com leitos para pacientes com a doença. Saiba mais em http://bit.ly/203xhGJ
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